Mesmo com conta de água mais cara, consumo na RMF aumenta

Mesmo com a tarifa de contingência, criada há dois meses para inibir o gasto excessivo de água na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), o consumo aumentou. De acordo com nota técnica emitida ontem pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), nos dois primeiros meses de vigência da nova tarifa, houve aumento médio de 2,5% (ou 617 mil m³ no total). O objetivo era que cada cliente reduzisse 10% do consumo médio, diante do cenário de estiagem e da situação dos reservatórios que abastecem os municípios da RMF.
O volume gasto a mais nesse período daria para abastecer, segundo a empresa, uma cidade com 137 mil habitantes por um mês. Para exemplificar, o município de Maranguape, um daqueles em que a nova tarifa foi adotada, tem população estimada em 124 mil habitantes.
A nota técnica explica que apenas 7% dos cerca de 1 milhão de clientes pagaram tarifa de contingência em dezembro e 29% em janeiro. Ou seja, naqueles meses, respectivamente 93% e 71% dos clientes cumpriram a meta da companhia, que informou ainda ter arrecadado R$ 12,5 mil, em dezembro, e R$ 1,6 milhão a mais, em janeiro, com a nova taxa. A Cagece não informou, porém, quanto arrecadou com a revisão tarifária extraordinária.
A dona de casa Socorro Luz, 60, que mora no Conjunto Ceará, em Fortaleza, pagou R$ 108,15 de conta de água em novembro do ano passado. Um mês depois, ela viu a conta saltar para R$ 131,34 — um aumento de 21,4%. Foi justamente em dezembro, entre os dias 19 (na Capital) e 20 (em outros 17 municípios da Grande Fortaleza), que a Cagece implantou o novo sistema de cobrança, com a tarifa de contingência, além de ter feito uma revisão tarifária extraordinária para equilibrar custos da empresa.
“Eu tentei fazer economia de todo jeito, até não abrir totalmente torneiras e chuveiros para sair menos volume d’água. Mesmo assim, notei que, realmente, em dezembro, por ser um mês em que junta mais gente da família, a conta veio maior”, conta Socorro.
O esforço para economizar água começou a surtir leve efeito nas duas contas seguintes. Em janeiro, ela pagou R$ 122,29 e esse mês vai pagar R$ 89,87.
“Não alcancei a meta estabelecida pela Cagece, que é de 17 metros cúbicos (m³), mas cheguei agora a 19 m³ depois de ter consumido 22 m³ em janeiro”, comemora, apesar de ainda estar pagando a tarifa de contingência.
Meta cumprida
A gerente de vendas Isabelle Barreira, 36, que mora no Monte Castelo, conseguiu cumprir a meta estabelecida pela companhia de água. “Minha conta de dezembro veio R$ 212 e agora em fevereiro vou pagar R$ 190. Cumpri minha meta principalmente porque adotamos medidas como não lavar mais o carro em casa e não regar mais as plantas do jardim e do quintal”, explica.
Ela critica, porém, a revisão extraordinária da tarifa, a cobrança de tarifa de contingência e da taxa de esgoto. “Pagamos tarifas demais e mesmo assim a companhia ainda deixa faltar água com alguma frequência”, reclama.
Saiba mais
A tarifa de contingência não é aplicada sobre instituições da área de saúde, tais como hospitais e postos de saúde ou segurança, como presídios e delegacias de polícia, nem sobre clientes com consumo igual ou inferior a 10 m³.
Segundo o comunicado da Cagece, “para atingir a meta estabelecida pelo mecanismo de contingência, Fortaleza e RMF precisariam reduzir o volume consumido mensal em cerca de 1,2 milhão de m³ do volume médio de água consumido. No total, a média de consumo em Fortaleza e RMF é de 12 milhões de m³”.
No último dia 4, o Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Decon), do Ministério Público do Ceará (MPCE) instaurou procedimento para verificar possível abuso no cálculo das metas individuais de consumo pela Cagece.
FONTE: http://www.opovo.com.br/