Mulheres da siderurgia que transformam realidades e inspiram novas gerações
09/03/2020

Na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), as mulheres ocupam funções em todas as áreas e a presença delas tem sido crescente. Os programas de Trainee e Jovem Aprendiz têm sido portas de entrada

As mulheres têm avançado no mercado de trabalho ocupando cargos de liderança e em funções cujos perfis eram tipicamente masculinos. Elas têm investido em suas habilidades e competências, estão apresentando os resultados dessa dedicação e vêm somando importantes soluções onde atuam.

Na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), 12,9% de seus empregados diretos são mulheres. Esse percentual vem crescendo, ano após ano, e ultrapassa a média nacional das siderúrgicas brasileiras, cujo índice é de 8% de participação feminina, conforme o Relatório de Sustentabilidade 2018 do Instituto Aço Brasil. Nos últimos dois anos, o número de mulheres contratadas na CSP dobrou.

Jovem Aprendiz

Na CSP, as mulheres ocupam funções em todas as áreas. Os programas de Trainee e Jovem Aprendiz têm sido portas de entrada para mais mulheres na CSP, ao atrair profissionais recém-formadas e para o primeiro emprego. Com 22 anos, a Mikaele de Sousa Reis, moradora de São Gonçalo do Amarante (SGA), inaugurou um novo tempo no Laboratório de Matérias Primas da CSP, tornando-se a primeira mulher a integrar a equipe na função de laboratorista. Trabalhar no setor envolve o manuseio de materiais de 6kg a 40 kg, a utilização de pás para o quarteamento do produto que vai ser analisado e a missão de atestar a qualidade do carvão e coque adquiridos com análises de umidade e de granolometria, dentre outras atividades.

Há um ano a Mikaele ingressou na CSP  - para seu primeiro emprego - e já está investindo na carreira profissional, dedicando-se ao curso técnico em Metalurgia do CVTEC em SGA. "Eu ouvia falar da CSP, mas não conhecia o processo de produção do aço. Quando abriram as inscrições para o programa Jovem Aprendiz, me inscrevi. Quando comecei a estudar e a ver todo o processo de perto, me apaixonei por isso. O ramo siderúrgico é algo diferente e que me chama a atenção. E aqui é como se a gente fosse os olhos e o cérebro de todo o processo, porque toda a matéria-prima passa por este setor, antes de todo o processo, até o produto final", contou empolgada.

Até 2019, apenas homens ocupavam o setor atuando como laboratorista. Agora, já são quatro mulheres integrando a equipe. "Eu tinha medo de me tratarem diferente e de não dar conta, mas isso não aconteceu. A gente segue um padrão, todo mundo faz a mesma coisa. Isso me deixou mais empoderada. Eu vi que consigo fazer coisas que, muitas vezes, as pessoas falam que a mulher não é capaz - mas, se eu quiser, eu sou capaz", compartilhou Mikaele. A trajetória dela já é um exemplo para sua família e amigos: "Eu falo a minha experiência e tento mostrar, principalmente pra minha irmã, que não é preciso viver só naquele mundo. Ela pode sair dessa bolha, que às vezes a sociedade impõe para a mulher. Ela é capaz de tudo, assim ela queira. Percebo que minha mãe tem muito orgulho de mim e isso me deixa muito feliz".

Essa mudança agregou importantes resultados para a CSP, segundo o coordenador do Laboratório Central da CSP, Hilder Caldas. "Por ser um posto com maior carga braçal, que exige um físico mais forte, existia um paradigma de contratação de homens para a função. Mas a gente se surpreendeu positivamente, não só com a capacidade das mulheres de fazerem as atividades do posto, mas também com as melhorias que aconteceram no laboratório como um todo. Elas têm um olhar mais crítico em relação à organização e para dar novas ideias sobre procedimentos e processos. Tivemos resultados excepcionais", relata o gestor.

"Sangue no olho" e vencer preconceitos

A Estefânia Sousa é técnica em Química e líder da Operação do Tratamento de Água da CSP, onde trabalha há cerca de cinco anos. Ela realiza o acompanhamento de processos para garantir os resultados estipulados, assessora o supervisor do setor e também coopera na parte operacional. "Eu atuo mais na gestão, mas isso não me impede de abrir uma válvula, pegar um peso se for necessário, dentro das minhas condições físicas, e colocar 'a mão na massa'. Limpo o reservatório de água, por exemplo, 'batendo pá' junto com outra mulher e a equipe masculina", conta com orgulho. Para ela, tem sido desafiador liderar homens, trabalhando em um setor onde a atividade é predominantemente masculina. "Mas a gente conquista no dia a dia o respeito. O que um homem faz, você também faz, não existe diferença. E a  mulher ainda tem o ponto forte de ser mais organizada", contou. A experiência também a modificou. Entre as habilidades que desenvolveu para lidar com os desafios, ela destaca o pensamento mais racional. "Às vezes somos muito sentimentais. Decidi ter sangue no olho e vencer qualquer preconceito", completa.

Mulheres que apoiam outras mulheres

Na Coordenação de Sistemas Industriais, a Giana Neves é analista de Tecnologia da Informação Sênior. Há cinco anos ela desembarcou no Ceará, vindo de Minas Gerais, para trabalhar na Siderúrgica do Pecém. Formada em engenharia de Computação, ela se deparou com um segmento do mercado de trabalho em que as mulheres são minoria. "Na CSP, quando eu cheguei, observei que não tinha mulheres trabalhando na minha área e vi também a dificuldade que se tinha em encontrar mulheres com essa formação para o setor. Mas agora isso está mudando, eu já tenho mais três colegas de trabalho", conta Giana. Diante desse cenário, ela decidiu se dedicar em apoiar suas colegas que estão iniciando. "Duas da minha equipe são pessoas que eu tenho que inspirar a continuarem em nossa carreira. Eu quero ser a inspiração profissional para elas buscarem esse crescimento".