Projetos em Hidrogênio Verde são prioridade da Embrapii
06/12/2022

José Luis Gordon fala dos objetivos da entidade, destacando o potencial brasileiro no desenvolvimento de soluções inovadoras projetos de pesquisa e desenvolvimento de soluções industriais envolvendo a cadeia produtiva do Hidrogênio Verde deve ser um dos principais focos dos próximos anos para a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). A entidade observa com atenção a formação do hub de hidrogênio verde (H2V) em formatação no Ceará e já separou recursos para fomentar iniciativas em parceria com o setor privado e centros de pesquisa.

No Estado, a Embrapii já possuía parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e com o Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE). E, anunciou em novembro, nova parceria firmada com o Instituto Atlântico. Assim, são três centros de pesquisa credenciados a desenvolver projetos de P&D em parceria com a Embrapii com foco na indústria com recursos federais. No Nordeste, o Ceará é quem tem a maior gama de centros de pesquisa. Além daqui, Bahia e Paraíba possuem bases. Ao O POVO, o novo presidente da Embrapii, José Luis Gordon, apresenta os objetivos da entidade. Ele foi nomeado em agosto e assumiu a presidência da Embrapii em setembro. O principal desafio de sua gestão é ampliar o atendimento às demandas do setor industrial.

Gordon destaca o potencial brasileiro em soluções inovadoras e sustentáveis, alinhadas com a agenda de objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU. Por isso, o H2V é uma das prioridades.

 

O POVO - Quais devem ser as prioridades da Embrapii para o início de 2023?

José Luis Gordon - Temos um desafio bem bacana, pois já temos uma tradição muito consolidada em projetos de transformação digital, ou seja, de inteligência artificial, internet das coisas. Pretendemos manter isso tudo andando, é nossa missão para que as empresas continuem desenvolvendo atividades nesta área. Mas também vamos pensar para o futuro uma agenda com o diferencial da sustentabilidade. O Brasil pode ser um líder mundial com uma nova indústria mais inovadora e sustentável. Eu estive na COP, no Egito, e existe uma grande discussão sobre o financiamento, mas também sobre o impacto das ações na prática. Hoje, 67% dos nossos projetos já estão alinhados com a agenda de objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU e, a partir de agora, queremos que todos os projetos sejam correlacionados com as ODS. Isso inclui o uso de novos materiais e a transformação digital, por exemplo. Esse é o caminho que a gente enxerga, que o Brasil pode ser uma liderança e que a Embrapii seja um grande player para ajudar o industrial a inovar.

 

OP - De que forma esse processo indutor ocorrería? Gordon - Nós temos uma rede com 24 centros de pesquisa, em breve vamos anunciar mais quatro centros na região Norte para compor essa rede, voltada à bioeconomia, em que o Brasil tem um papel estratégico. Podemos nos beneficiar e aumentar a produção de fármacos, por exemplo. Os IFAs, que são os insumos de fármacos, podem ser produzidos em território brasileiro - vivemos uma experiência de alta dependência da China durante a pandemia, agregar valor a resíduos sólidos e gerar energia através da biomassa, novos materiais no setor de cosméticos, uma série de coisas que podem ser feitas. Nosso foco agora é continuar fazendo o que já desenvolvemos com as indústrias, atendendo a demanda das empresas por inovação, mas acima de tudo desenvolver esse maior olhar para as ODDs. Discutimos isso na COP e junto de parceiros internacionais.

 

OP - E regionalmente, de que forma a Embrapii planeja os próximos anos de atuação no Ceará? Existe possibilidade de novas parcerias?

Gordon - No Ceará, estamos desenvolvendo nova parceria com o Instituto Atlântico, mas já temos o Instituto Federal do Ceará (IFCE), que é um grande executor de projetos com empresas do País todo, muito interessante, também com o pessoal da Universidade Federal do Ceará (UFC). Todos esses parceiros são muito fortes na área de transformação digital. Então, a ideia é continuar fortalecendo esses parceiros, o Estado é um hub nacional de tecnologia, que atende empresas da Região, mas também de fora. Na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), conversamos sobre formas de trazer mais empresas cearenses para projetos, esse é o nosso papel, conectando o setor produtivo à inovação. Ainda promovemos um encontro de todos os mais de 80 laboratórios credenciados pelo Embrapii, discutindo em Fortaleza melhores práticas de gestão, prospecção de empresas, gestão de recursos. É um grande encontro em que a gente discute estratégias e projetos em conjunto. São dois dias de trabalho em que aproximamos as instituições, promovendo intercâmbio entre os estados.

 

OP - O Ceará se apresenta ao mundo como futuro produtor de Hidrogênio Verde (H2V), uma nova indústria. Como a Embrapii pode contribuir para esse mercado?

Gordon - Essa é uma agenda extremamente importante, em que o Brasil pode liderar esse mercado no âmbito internacional. Estamos com recursos especificamente para pesquisa e desenvolvimento na área de Hidrogênio Verde. Dada a relevância, dentro do projeto de bioeconomia que já mencionei, temos recursos e queremos muito projetos voltados ao H2V, assim como para o desenvolvimento de motores automotivos movidos a hidrogênio, também queremos estimular essa área. Isso é, sim, uma prioridade em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável.

 

OP - Nessa agenda de investimentos da Embrapii, falamos de quanto em recursos e o quanto isso é representativo para entidade?

Gordon - Temos falado para o ano é de algo em torno de RS 600 milhões a RS 700 milhões em projetos de pesquisa e desenvolvimento. É um número que já foi recorde neste ano e pretendemos que, no próximo ano, seja pelo menos o mesmo valor, mas a Embrapii vem crescendo. Para você ter uma ideia, em 2019, o orçamento da Embrapii foi em torno de RS 300 milhões. Achamos que há potencial e nossa meta é dispor de um orçamento de RS 1 bilhão para projetos de inovação e ecoeconomia.

 

OP - Como a Embrapii enxerga o movimento em torno da chegada do 5G ao Brasil?

Gordon - Estamos com alguns projetos relacionados ao 5G, as empresas têm buscado se desenvolver. Essa tecnologia vai transformar o dia a dia, mas ainda precisa desenvolver a tecnologia. Ainda não há as interações necessárias. É uma das nossas prioridades, temos recursos disponíveis, já temos projetos em desenvolvimento, de empresas trabalhando em conjunto. Estamos lançando em 2023, com foco em pesquisa e desenvolvimento de 5G e 6G, os centros de competências, em que vamos colocar RS 60 milhões em investimentos para que possamos desenvolver competências no Brasil, capacitar gente para ajudar nessa agenda de inovação. Ainda estamos com chamamento aberto para definir onde será esse centro. Já temos várias coisas acontecendo, mas estamos abertos a propostas.

 

OP – O mercado de tecnologia do Brasil apresenta um déficit de formação de profissionais. Como a Embrapii trabalha nesse quesito?

Gordon - Temos em nossos projetos 10 mil pesquisadores. Destes, mais de 1 mil são alunos do Ensino Médio. Então, tem gente sendo formada participando desses projetos da Embrapii. Não é o nosso foco principal, mas acaba se tornando um subproduto do trabalho.

 

Currícul

José Luis Gordon é economista formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade São Paulo (FEA/USP), com mestrado e doutorado em Economia da Inovação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Parcerias

Os projetos envolvendo a Embrapii, centros de pesquisa parceiros e empresas já desenvolveram soluções que beneficiaram organizações dos setores de energia e do cimento, exemplifica Gordon, ao destacar a transversalidade.

 

SAMUEL PIMENTEL samuel.pimentel@opovo.com.br

 

Fonte: O Povo