Greve dos caminhoneiros divide entidades
01/02/2021

Três anos depois da greve que resultou no bloqueio de grande parte das rodovias brasileiras, os caminhoneiros autônomos devem voltar a paralisar as atividades a partir da próxima segunda-feira, dia 1º. O movimento foi confirmado ontem pelo Conselho Nacional de Transportes Rodoviários de Cargas (CNTRC) e pela Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), inclusive, com adesão no Ceará. Porém, o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos no Ceará (Sindicam CE) não deve participar.

O sindicato cearense informou que vai seguir orientação da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), entidade nacional a que está vinculada. "O entendimento é de que, apesar das dificuldades, esse não é o momento para greve em função do aumento do número de casos de Covid-19 no País e fazer a mobilização seria elevar muito o risco de contaminação", informou a secretária do Sindicam Ceará, Joana D'arc Seixas.

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) também negou qualquer tipo de apoio a uma eventual paralisação de caminhoneiros e informou que se "houver algum movimento dessa natureza, as transportadoras garantem o abastecimento do País, desde que seja garantida a segurança nas rodovias", destacou em nota, o presidente da CNT, Vander Costa.

Nacionalmente, a greve já é dada como certa por entidades como a ANTB. De acordo com o presidente da associação, José Roberto Stringasci, entre 200 e 300 mil caminhoneiros devem aderir ao movimento já no primeiro dia, incluindo, os que atuam no Ceará.

Dentre as principais queixas da categoria está a política da Petrobras de paridade de preços com o mercado internacional, o que tem resultado em sucessivos aumentos no valor do diesel. O mais recente deles, de 4,4%, entrou em vigor na última terça-feira.

Também reclamam do alto custo do pedágio e da demora na aplicação da lei do preço mínimo do frete. Esta última, aliás, foi uma das principais promessas para encerrar a greve de 2018, mas que nunca chegou a ser implementada porque a constitucionalidade da lei está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"Esta lei é importante para nós porque lá tem um gatilho que diz que a cada vez que o preço do diesel subisse ou descesse acima de 10%, haveria reajuste. Porém, o piso nunca funcionou e a última vez que deram aumento foi de 2,5%. Enquanto isso, os nossos custos subiram muito mais. O diesel muda toda semana e insumos como óleo lubrificante aumentaram mais de 100%", afirma José Roberto.

Na avaliação dele, a mais recente proposta do Governo Federal de zerar o PIS/Cofins do combustível, já não resolve. "Tirar o Pis/Cofins iria reduzir algo em torno de 9%. Em dois reajustes da Petrobras isso já seria consumido. Então para nós, essa não é a resposta. O caminho é mudar a política de preços da Petrobras."

Por se tratar de uma categoria de profissionais autônomos, bastante pulverizada, é difícil precisar a dimensão que o movimento terá no País. Ainda mais depois do fim da contribuição sindical compulsória que resultou em queda brusca na quantidade de filiações no País.

O economista Ricardo Coimbra também chama atenção para o fato de que parte das entidades sindicais que hoje estão vinculadas a este segmento apoiou o presidente Jair Bolsonaro no processo eleitoral de 2018.

"Existe uma disputa interna muito forte de quem ainda quer manter este apoio e de quem acha que foi traído. A tendência é de que a greve ocorra, mas só vamos ter uma visão mais clara do nível de adesão no dia 1º. Ainda assim, é uma questão muito preocupante porque traz mais incertezas sobre a retomada da atividade econômica e o abastecimento no País".

 

Fonte: O Povo