IFCE cria grupo de pesquisadores em Hidrogênio Verde
24/05/2021

Instituto é considerado estratégico para a implantação do Hub do combustível sustentável no Ceará

Em um mundo cada vez mais atento à necessidade de reduzir emissões e incentivar o uso de energia limpa, as instituições de educação, pesquisa e inovação exercem papel decisivo. E o Instituto Federal do Ceará (IFCE) se insere nesse contexto com mais uma iniciativa na direção da sustentabilidade, iniciando a formação de um núcleo de pesquisadores em Hidrogênio Verde. O start dessa nova instância se deu em uma reunião realizada no dia 18/05, comandada pela Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPI).

Apesar de já fazer parte da rotina dos pesquisadores e estudiosos da área há algum tempo, o conceito de Hidrogênio Verde ainda é bastante desconhecido da população. De modo geral, a base desse produto está na aplicação da eletrólise - processo químico que usa uma corrente elétrica para dividir a água em hidrogênio e oxigênio através de um dispositivo chamado eletrolisador. Essa lógica de produção elimina o dióxido de carbono, gás causador do efeito estufa. O desafio é simplificar a logística e, principalmente, reduzir os custos desse tipo de prática, bem mais altos do que os envolvidos na produção de hidrogênio a partir de gás natural, por exemplo.

As dificuldades envolvidas no objetivo de ampliar a produção desse combustível são experimentadas globalmente, mas o Ceará (e notadamente o IFCE) já reúnem condições consideradas favoráveis para assumir uma posição de destaque nesse sentido. É o que aponta o professor Edilson Mineiro Sá Júnior, docente do campus de Sobral e pesquisador do Programa Cientista Chefe da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) na área de energia. Ele lembra que o Instituto está finalizando o recebimento de vários sistemas fotovoltaicos, com instalação em praticamente todos os campi, o que possibilitará aulas práticas em energias renováveis em vários cursos e o estudo da geração do Hidrogênio Verde.

IFCE investiu fortemente em energia solar, beneficiando unidades em todo o estado (foto: Dowglas Lima)

"Atualmente, o IFCE possui várias pesquisas visando a produção de hidrogênio, além de pesquisas na geração e no processamento da energia. No ensino, o IFCE já possui cursos de mestrado e de especialização na área, além de disciplinas nos cursos de graduação e de nível técnico. Assim, o IFCE está criando um grupo de trabalho para unir os pesquisadores e propor iniciativas para auxiliar a implantação do Hub do Hidrogênio Verde, com a capacitação de pesquisadores e de alunos, gerando mão de obra local para a concretização dessa importante oportunidade para o Ceará", explica o professor. O mencionado Hub vem sendo tema de encontros do governo do Ceará com investidores estrangeiros.

Insere-se também nesse contexto a implantação do Laboratório de Energias Renováveis no campus Pecém, local estratégico para formação de mão de a ser absorvida no Complexo Industrial e Portuário da região, principal local em que serão implantadas as empresas que atuarão na cadeia de valor do Hidrogênio Verde. No mês passado, o IFCE anunciou a instalação de uma usina de minigeração solar fotovoltaica de 400 kWp no Pecém, estágio inicial de um projeto que prevê a criação do Complexo de Energias Renováveis no campus, com um investimento total de cerca de R$ 6,5 milhões.

Campus avançado do Pecém é considerado estratégico para o Hub de Hidrogênio Verde do Ceará (foto: Dowglas Lima)

Futuro promissor

O professor Bruno César Barroso Salgado, coordenador do Programa de Pós-graduação em Energias Renováveis do IFCE Maracanaú, também faz parte do grupo de trabalho em Hidrogênio Verde iniciado nesta semana no Instituto. Ela aponta que o incentivo a pesquisas que proporcionem a produção desse combustível por uma rota ambientalmente correta é muito atrativo do ponto de vista industrial, e também acadêmico. Nesse sentido, os estudos em torno da produção de Hidrogênio Verde têm se intensificado em diversas linhas.

O professor trabalha com Fotocatálise Heterogênea - reações que se processam com o uso de catalisadores, em geral óxidos, de natureza semicondutora, que são ativos por radiação. "A maior possibilidade desse método é a total utilização de fontes renováveis, já que a radiação é derivada do próprio sol. Além disso, temos a utilização de biomassa, que é vista como resíduo em muitos processos. Nessa rota, o hidrogênio não é o único produto gerado, já que a fotocatálise proporciona conversões seletivas à própria biomassa", explicou o pesquisador.

"É como imaginar que você tem um resíduo de baixo valor agregado, que pode ser classificado como rejeito de algum processo industrial. Ele é submetido a um processo fotocatalítico pela incidência de radiação solar, onde na fase líquida você terá a formação de componentes de maior valor, e em fase gasosa tem-se também a produção de hidrogênio", destacou o professor Bruno. Essa pesquisa, lembra ele, dá seus primeiros passos no IFCE - mas já mostra resultados promissores. O professor inclusive orienta uma aluna de mestrado nessa área, e há a expectativa de que, até o final do ano, seja feita uma publicação em um periódico científico de alto impacto.

O professor Bruno César explica também que os esforços de pesquisa e de inovação em torno das tecnologias de obtenção de hidrogênio verde compõem um campo de estudos que tende a crescer ainda mais, tanto na fotocatálise citada por ele quanto em outras rotas de síntese - que utilizam processos biológicos, microbiológicos e catalíticos.

Importância estratégica

A Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação do IFCE, Joelia Marques, aponta que o Hub de Hidrogênio verde no Ceará, que em breve será instalado no Pecém, será mais um grande impulso para a área de energias renováveis no estado. A gestora aponta que o IFCE, além de possuir corpo de profissionais pesquisadores muito capacitados na área, está muito alinhado com essa demanda.

"Temos dois campi com localização estratégica na região próxima a instalação da usina de Hidrogênio Verde - um no próprio Pecém e outro em Caucaia. Também temos cursos de formação nos mais diversos níveis, desde técnicos até a pós-graduação, em áreas estratégicas para alavancar a produção de Hidrogênio Verde no Ceará. Nosso corpo de pesquisadores é bastante capacitado e estamos sempre muito abertos a parcerias. Considero que estes aspectos são diferenciais que podem ser bastante impactantes e muito positivos para que essa tecnologia seja mais um case de sucesso no estado", disse a pró-reitora.

A PRPI está iniciando um diálogo constante com os pesquisadores do IFCE que já trabalham em projetos e pesquisas sobre Hidrogênio Verde, com o objetivo de fazer esse levantamento em todo o Instituto, juntar esforços coletivos para que essa tecnologia seja difundida em todo estado.

 

Fonte: IFCE